Entre o Despertar e a Procura, o Eco da Destruição e do Luto
Giovanni desceu a colina lentamente, sentindo cada passo
pesar mais do que o último. Embora seu corpo estivesse se recuperando, ele
ainda sentia a dor dos ferimentos, um lembrete constante de sua fragilidade
recente. O cheiro de lavanda que impregnava suas roupas e pele ainda persistia,
trazendo uma calma sutil ao seu estado de espírito. Ele não sabia ao certo se o
óleo que Kamaria havia usado era realmente de lavanda ou algo mais raro dos
Innisianos, mas o aroma parecia profundamente conectado a ela — uma essência
que ele não conseguiria esquecer tão cedo.
O funeral havia deixado uma marca profunda em sua alma. Ver
tantas vidas ceifadas tão rapidamente, enquanto ele permanecia vivo, o fazia
sentir uma mistura de gratidão e culpa. Ele queria ajudar, fazer algo útil, mas
não sabia como. As palavras enigmáticas de Teach ainda ecoavam em sua mente.
Havia segredos ali, escondidos sob as ondas de Porto Cantante, e Giovanni não
tinha tempo para desvendá-los agora. Ele precisava de direção, de um propósito.
Com o cortejo fúnebre atrás de si, Giovanni decidiu
concentrar-se em uma necessidade mais imediata. Sua armadura, arruinada nas
últimas batalhas, precisava ser substituída. Não era apenas uma questão de
proteção, mas de ter algo que o fizesse se sentir inteiro novamente, preparado
para o próximo passo — qualquer que fosse.
Ao adentrar mais fundo na cidade, Giovanni encontrou uma
ferraria em funcionamento, o som das marteladas ecoando pelo ambiente. O calor
das brasas e o cheiro do metal derretido criavam um contraste reconfortante com
a brisa salgada do porto.
Uma placa de madeira usava letras simples para anunciar: "Korin,
Ferraria e Aventura". Ele sabia que havia encontrado o lugar certo. Sem
hesitar, Giovanni empurrou a porta de madeira pesada e entrou.
Dentro da ferraria, o calor era ainda mais intenso. As
chamas da forja iluminavam o ambiente com uma luz alaranjada, e o som constante
do martelo golpeando o metal preenchia o espaço. No centro do lugar, um
Tainniano alto e robusto, com a pele marcada por anos de aventuras e trabalho
pesado, estava concentrado em sua tarefa.
“Korin?”, perguntou Giovanni com um tom misto de curiosidade
e cansaço.
O Tainniano ergueu os olhos com um sorriso que mostrava a
confiança de alguém que já havia enfrentado o mundo e saído vitorioso mais
vezes do que perdera. Ele largou o martelo por um momento, enxugou o suor da
testa e se virou completamente para Giovanni.
“Sim, sou eu. E você deve ser o pobre desgraçado que
precisará de uma armadura nova, não é?” Korin riu, dando uma olhada rápida no
estado de Giovanni e nas peças destruídas que ele carregava.
Giovanni soltou uma risada leve, o bom humor começando a
retornar. “Exatamente. Embora, pelo que restou da minha armadura, eu devesse
estar morto. Tenho que agradecer por ainda estar de pé.”
Korin fez um gesto com a mão para que Giovanni colocasse a
armadura sobre o balcão. Com um olhar experiente, ele começou a inspecionar as
peças danificadas. O silêncio prolongado enquanto ele analisava cada detalhe
fez Giovanni segurar o fôlego.
“Olha, rapaz,” começou Korin com um tom honesto. “Eu já vi
armaduras em péssimo estado, mas isso aqui... isso não vale quase nada. O metal
está gasto, as juntas mal se seguram. Eu poderia derreter isso e talvez fazer
alguns pregos.” Ele riu, balançando a cabeça.
Giovanni franziu a testa, o humor de antes sendo substituído
por uma leve frustração. “Então... não há nada que você possa fazer? Preciso de
uma nova armadura, mas não tenho dinheiro suficiente para pagar uma agora.”
Korin parou por um momento, observando Giovanni com mais
atenção. Ele enxergava algo diferente naquele jovem. Algo além do aventureiro
desgastado. Talvez fosse o brilho nos olhos ou o fato de que, apesar de suas
condições, Giovanni ainda carregava um otimismo escondido em seu tom de voz.
“Olha, garoto,” Korin falou enquanto esfregava o queixo,
pensativo. “Eu não sou do tipo que faz caridade, mas também não sou um
trapaceiro. Vejo potencial em você. Não sou cego para isso. Se está disposto a
arriscar, podemos fazer um acordo.”
Giovanni ergueu as sobrancelhas, curioso. “Que tipo de
acordo?”
Korin sorriu, cruzando os braços. “Há uma caverna aqui
perto, nas Montanhas Enluaradas. Dizem que há um metal raro lá, um material que
só se encontra em locais abençoados pela luz da lua. É perigoso, claro — sempre
é. Mas se você me trouxer uma boa quantidade desse metal, eu faço a armadura
pra você. Dividimos o resto do lucro, e você sai equipado sem pagar uma moeda.”
Giovanni considerou a proposta por um instante. Sabia que
havia risco envolvido, mas essa era sua vida — sempre um passo entre o
desconhecido e a aventura. E a ideia de uma armadura feita de um metal tão raro
o animava. Ele se lembrou das histórias que ouvira sobre as Montanhas
Enluaradas, locais onde a magia da lua era tão forte que a própria terra
parecia brilhar à noite.
“Fechado”, respondeu Giovanni com um sorriso de lado.
“Qualquer coisa é melhor do que ficar parado por aqui.”
Korin estendeu a mão para selar o acordo, e Giovanni
apertou-a firmemente.
“Só tome cuidado. Não é o tipo de lugar que vai facilitar
pra você. Mas se conseguir o que precisa, vai valer a pena. Ah, e antes que eu
me esqueça,” Korin disse enquanto se virava para pegar algo de uma prateleira.
“Vai precisar de algo melhor do que essa sucata que está usando.”
Ele entregou a Giovanni uma lâmina simples, mas bem forjada,
e um escudo de metal polido. “Não é uma obra-prima, mas vai te manter vivo até
voltar.”
Giovanni aceitou as armas com um sorriso grato. “Não posso
agradecer o suficiente.”
Korin deu de ombros. “Agradeça-me quando trouxer o metal. E
não morra por aí. A vida é curta demais para gastar com imprudência.”
Enquanto Giovanni saía da ferraria, o cheiro de lavanda ainda presente o seguia, misturado ao metal novo em suas mãos e ao desafio que o aguardava nas Montanhas Enluaradas. A aventura o chamava de novo, e ele estava pronto para responder.
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