Nas Sombras da Montanha


Entre a Instabilidade da Terra e o Perfume da Lavanda

O sol já começava a se esconder atrás das árvores enquanto Giovanni saía da ferraria de Korin, agora equipado e pronto para sua missão. Korin, o ferreiro Tainniano que havia aceitado fazer o acordo, não era apenas um homem de negócios; ele era justo e direto, mas com uma alma aventureira que ressoava com a de Giovanni. A armadura improvisada que Giovanni usava estava ajustada o suficiente para proteger, mas leve para que ele pudesse se mover com agilidade. Nas costas, ele carregava uma picareta e uma bolsa vazia, aguardando o raro metal que pretendia encontrar na caverna.

 

Enquanto avançava pelo bosque que cercava Porto Cantante, Giovanni se perdia em seus pensamentos. O cheiro de lavanda, ou algo que ele acreditava ser lavanda, ainda impregnava suas roupas e era um lembrete constante de Kamaria. Ele não podia evitar pensar nela. Apesar da distância que os separava naquele momento, ela estava com ele, em cada passo que dava. O aroma era como um fio invisível que os conectava, e, de alguma forma, isso o fortalecia.

 

O bosque ao redor era tranquilo, mas havia algo no ar que sugeria que o lugar guardava seus próprios mistérios. A luz do fim do dia filtrava-se pelas folhas, criando uma colcha de retalhos dourados no chão. Giovanni sabia que precisava encontrar a trilha escondida que Korin mencionara. Uma trilha que parecia quase imaginária, como um segredo que só os mais ousados ousavam buscar.

 

Ele parou por um momento, ouvindo o farfalhar das folhas e o vento suave que corria entre as árvores. Algo chamou sua atenção à esquerda — um caminho estreito, quase imperceptível, coberto por galhos e folhas. Giovanni avançou, sentindo que estava no lugar certo, mesmo que o caminho fosse duvidoso. A trilha parecia prometer mais do que mostrava, e ele sabia que o perigo era tão real quanto o metal que buscava.

 

O cheiro da terra úmida e da vegetação densa o cercava enquanto ele seguia o caminho estreito. O bosque começava a se transformar, as árvores se tornando mais densas, o ar mais pesado. Giovanni sabia que a caverna estava próxima, e o calor de sua determinação queimava tão forte quanto o sol desaparecendo atrás das montanhas.

 

Finalmente, a trilha se abriu para uma clareira rochosa, e ali estava a entrada da caverna. A boca escura da montanha parecia engolir qualquer luz que ousasse se aproximar. Giovanni parou por um momento, analisando o ambiente ao redor, antes de avançar para dentro da caverna.

 

A escuridão o envolveu quase imediatamente, e ele acendeu a tocha que havia trazido, o som de seus passos ecoando pelas paredes de pedra. A caverna era fria, com gotas de água pingando das estalactites acima. Ele sentia o cheiro do metal ao longe, como uma promessa. O lugar, no entanto, exalava uma energia instável, como se a caverna estivesse viva e aguardasse o momento certo para desabar.

 

Giovanni seguiu em frente, segurando firmemente a picareta. O som da tocha crepitando no ar úmido e o eco de seus passos criavam um ritmo constante, mas havia uma tensão crescente ao redor. O perigo não estava apenas nas sombras, mas na própria estrutura da caverna.

 

Ele finalmente encontrou o local que Korin mencionara. O metal brilhava sob a luz da tocha, incrustado nas paredes da caverna, e Giovanni não perdeu tempo. Com precisão e cuidado, ele começou a golpear as paredes rochosas com a picareta. Cada impacto reverberava pela caverna, fazendo com que o som ecoasse de volta para ele.

 

A cada golpe, Giovanni sentia o chão tremer levemente. As rachaduras nas paredes pareciam se expandir, pequenas pedras começavam a cair ao seu redor. Mas ele precisava continuar. O metal era raro, e ele sabia que sair de mãos vazias não era uma opção. Mesmo assim, a instabilidade do local o fazia pensar duas vezes sobre cada movimento.

 

Mais uma martelada. Giovanni encheu a bolsa com os fragmentos do metal, o suor escorrendo por seu rosto. A caverna parecia respirar com ele, como se estivesse esperando o momento certo para sucumbir ao seu peso. E então, um estrondo profundo ecoou nas profundezas.

 

O chão abaixo de seus pés tremeu violentamente. Giovanni olhou para cima e viu que grandes pedaços de rocha estavam se desprendendo. Ele precisava sair, e rápido. Com a bolsa cheia de metal, ele largou a picareta e correu.

 

As rochas começaram a desabar, uma após a outra, atrás dele. A luz da tocha balançava descontroladamente em sua mão enquanto ele corria, o som do desmoronamento crescendo, ecoando como um trovão nas paredes da caverna. Giovanni podia sentir o chão se movendo sob seus pés, a caverna desmoronando ao seu redor, mas a saída estava à vista.

 

Com um último salto, ele atravessou a abertura da caverna, jogando-se no chão da clareira do lado de fora. Atrás dele, um estrondo final, seguido por uma nuvem de poeira que se ergueu em um grande redemoinho. A entrada da caverna havia desaparecido, completamente soterrada pelas pedras.

 

Giovanni se levantou, ofegante, o corpo exausto e coberto de poeira, mas a bolsa em suas mãos estava cheia. Ele olhou para o horizonte, onde o sol já estava quase desaparecendo por completo, e deixou escapar uma risada de alívio.

 

Estava vivo. E com o metal raro em mãos.

 

Agora, tudo o que restava era voltar para Korin e cumprir sua parte no acordo. Giovanni ajeitou a bolsa nos ombros, sentindo ainda o leve perfume de lavanda ao seu redor, e começou a caminhar de volta para a cidade, com o pensamento de que, de alguma forma, aquele cheiro e Kamaria o haviam protegido.

 

A noite caía, e ele não sabia o que o esperava a seguir, mas a sensação de sobrevivência o deixava mais confiante.

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