Partida

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A água não pode curar tudo

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Kamária observava sua chalé na clareira, onde as flores balançavam suavemente com a brisa da noite. A luz da lua penetrava pelas frestas das árvores, revelando uma Innisiana de cabelos brancos e dreads longos que esvoaçavam enquanto ela respirava profundamente, pronta para deixar para trás o que sempre conhecera. A pele negra cor de canela refletia a luz da lua, e os olhos âmbar geralmente expressivos e determinavam, refletiam uma melancolia e pesar profundo.

"Zaki, meu querido...", murmurou ela, enquanto observava o Rio Innis ao longe. "Você está lá fora, em algum lugar, e eu devo encontrar meu próprio caminho agora." Os dedos delicados tocam, inconscientemente, lua crescente branca em sua testa.

A chalé, com sua cerca simples e telhado de madeira, emanava uma sensação de despedida. O fogão à lenha crepitava, aquecendo o ambiente decorado com plantas e tecidos de renda.

Decidida a deixar para trás a tragédia que assolou Porto Cantante, ela decidiu tomar um banho, deixando a água levar consigo a dor e a tristeza do recente velório coletivo. O som da água escorrendo tentava anular o eco da tragédia, mas seus olhos permaneciam distantes, perdidos na imensidão do passado e do desconhecido que a aguardava.

Ao sair do banho, a pele de Kamária brilhava, agora livre do odor característico dos Innisianos. Ela se enrolou em uma toalha e, ao ouvir um ruído na casa, por um momento, a esperança de ver Zaki retornar encheu seu coração. Contudo, era apenas o vento a dançar com os objetos da chalé, uma triste ilusão.



"Zaki...", sussurrou ela enquanto vasculhava a chalé em busca de uma lembrança do irmão. O vazio em suas mãos trouxe lágrimas aos seus olhos. "Não posso fraquejar.”

Em seu quarto, ao abrir um baú, Kamária retirou roupas que pareciam ter sido guardadas para uma ocasião especial. Vestiu-se com uma camisa branca bordada  com a lua crescente igualmente branca, uma saia na altura dos joelhos, revelando uma determinação típica em seu olhar.

Caminhando até uma gaveta, um suspiro de pesar se desenha nos lábios da innisiana. Abrindo-a, o conteúdo revelou-se ser apenas uma escama de sereia, brilhante como uma jóia. Kamária sorriu com tristeza ao segurá-la, lembrando-se dos dias mais simples e felizes. Zaki permanecia desaparecido, mas se ele voltasse para casa, saberia que ela estava viva e que carregava consigo as memórias dele e do passado. " Kamária colocou a escama sobre o travesseiro de Zaki, como uma bênção silenciosa.

Ao se preparar para sair, a melodia do Rio Innis preencheu o ar. Kamária sentiu a tristeza da despedida enquanto cantava uma canção na língua de Innis, uma língua antiga que ecoava pelas gerações.

"Ẹ dá ilẹ̀, baba mi," entoou ela suavemente, sua voz se misturando à melodia do rio. "Guia-me nas águas desconhecidas, protege meu caminho. Que a lua e o rio sejam testemunhas da minha jornada."

Ao caminhar em direção a Forte Aislin, os pensamentos de Kamária eram uma mistura de decisão e preocupação, uma dualidade que refletia em sua voz quando falava consigo mesma. “Seus olhos decididamente se voltaram para o horizonte, e ela escolheu seguir Giovanni, o jovem guerreiro humano forasteiro de Alba Etérea. Havia algo nele que a fazia lembrar dos tempos antigos, quando treinava magia com seu pai e resistia a atacar os humanos que atravessavam o rio. Giovanni se tornaria seu norte em uma jornada sem rumo definido.

A lua iluminava seu caminho. Ao deixar a chalé para trás, o som do Innis tornou-se uma melodia melancólica e o som melancólico do Innis acompanhava seus passos decididos. Kamária estava pronta para enfrentar o desconhecido, guiada pela esperança, memórias e a promessa de um novo amanhã, reverenciando o rio que sempre foi sua fonte de vida e agora seria testemunha de sua jornada incerta.

 

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