O Rio do Sangue

 

╔══════° °══════╗

Quando as Águas Correm de Dentro

.╚══════° °══════╝

 




A árvore de Navid, a maior de todo o continente, erguia-se como uma divindade viva no coração da floresta sagrada. Suas raízes, vastas e intrincadas, serpenteavam pela terra, semelhantes a veias que pulsavam com a energia vital da própria terra. O tronco, tão antigo quanto os próprios deuses, erguia-se como uma muralha viva, suas fissuras e ranhuras contando histórias esquecidas de eras imemoriais. Era mais do que uma árvore — era o centro do mundo. A essência da vida fluía a partir dela, e suas raízes se conectavam diretamente ao rio Innis, nutrindo-se de suas águas prateadas, criando uma conexão tangível com a natureza sagrada. Era como se Navid fosse o próprio eixo do continente.

 

Giovanni, ao ver Navid pela primeira vez, sentiu seu coração falhar uma batida. Ele mal conseguia processar o que seus olhos estavam testemunhando. A árvore parecia envolver todo o céu, sua copa vastíssima misturando-se com as nuvens e tocando o firmamento. Cada galho era imenso, estendendo-se pelo céu como braços esticados em direção às estrelas. Ele não sabia se o que estava vendo era real ou uma visão divina — Navid era algo que transcendia o conceito de grandiosidade humana. A luz da lua, que sempre o guiara em suas noites mais sombrias, agora era apenas um ponto na imensidão da copa da árvore.

 

Navid não era apenas vista, mas sentida. O ar ao redor vibrava com uma energia indescritível, e Giovanni podia sentir em cada célula do seu corpo essa força, como se a árvore estivesse viva de uma forma que ele nunca antes experimentara. A brisa suave que agitava as folhas carregava consigo cânticos antigos dos Innisianos, ressoando com a reverência acumulada de séculos de devoção. As águas prateadas do rio Innis fluíam a partir das raízes, refletindo o brilho da lua cheia como um espelho perfeito. Giovanni estava hipnotizado. O fluxo constante das águas parecia sussurrar segredos antigos, como se elas fossem o próprio sangue da terra.

 

Navid não era apenas uma árvore; era uma presença divina que dominava não apenas a paisagem, mas o espírito daqueles que a contemplavam. Giovanni, um homem acostumado à luta e ao sangue, sentiu-se pequeno, insignificante diante daquela divindade viva. Ele sabia, naquele momento, que nunca seria o mesmo. Estava diante de algo sagrado, algo que mudaria sua vida para sempre.

 

Kamária, entretanto, não estava em paz. A presença de Navid, que sempre lhe trouxera conforto, agora parecia apenas aumentar o peso que ela carregava. Enquanto caminhava em direção à nascente da árvore, as palavras de Astar ecoavam em sua mente, como um sussurro sombrio que se recusava a ir embora. A imagem dele, parado à margem do rio, com seus olhos gélidos fixos nela, ainda a atormentava.

 

O encontro com Astar não fora planejado. Ele surgiu de repente, como uma sombra que não pode ser evitada. Sua presença era implacável, uma lembrança fria da mortalidade e das escolhas inescapáveis. Kamária soube, no momento em que ele apareceu, que seu destino estava selado. Não havia mais tempo. A Flor de Innis seria o pagamento da dívida, um tributo que carregava consigo mais do que apenas valor simbólico — era a própria essência de sua conexão com a deusa, a chave para seu poder e existência espiritual.

 

— A flor — ele dissera, sua voz fria como a morte. Kamária não podia esquecer aquele olhar. Um olhar que não oferecia misericórdia, apenas cobrança.

 

No entanto, enquanto ela entregava a flor nas mãos de Astar, algo dentro dela hesitou. As águas ao redor começaram a sussurrar, mas não eram as mesmas vozes de antes, as que a atormentavam. Agora, as vozes dos afogados, em meio ao caos que se formava em sua mente, murmuravam algo novo: "Innis... confia... em você."

 

Ela se deteve por um instante, com a flor já fora de suas mãos, sentindo um vazio crescer em seu interior. Sentiu a energia sagrada deixar seu corpo. Era como se parte de sua alma fosse arrancada com aquela troca. A conexão com Innis, sempre presente e forte, estava agora silenciosa, distanciada. O que antes fora um fluxo constante de poder e tranquilidade, as águas que cantavam para ela, agora permaneciam em um silêncio pesado, como se o próprio rio tivesse se recusado a continuar seu curso.

 

Kamária soube, naquele instante, que sua escolha tinha um custo maior do que ela imaginava, mas também que Innis ainda não a havia abandonado completamente. O que vinha a seguir seria uma prova, um sacrifício que transcenderia rituais e tradições.

 

Agora, enquanto Kamária se aproximava das águas prateadas da árvore de Navid, o vazio dentro dela parecia se expandir a cada passo. Os outros representantes já haviam cumprido suas partes. Cada um deles havia se aproximado com a certeza de quem seguia tradições imutáveis, sem o peso da dúvida que ela carregava. O ar estava carregado de expectativa, e os cânticos ancestrais que preenchiam o espaço começaram a diminuir, à medida que o ritual chegava ao seu ápice.

 

O primeiro representante foi Tharos, do clã da Lua Minguante. Com uma postura firme, ele caminhou até a nascente, seu corpo despido irradiando a força ancestral de seu clã. Em suas mãos, a Flor de Innis parecia brilhar com uma luz suave. Tharos ajoelhou-se diante das águas prateadas e, com um gesto solene, colocou a flor nas raízes de Navid. As águas ao redor vibraram levemente, como se absorvessem a energia da oferenda, e a árvore respondeu com um suspiro quase imperceptível, um murmúrio de aceitação. Tharos se levantou, seus olhos fechados, e voltou ao seu lugar, imerso na serenidade de quem sabia que sua parte havia sido feita.

 

O segundo a caminhar foi Adhara, da Lua Cheia. A energia que ela trazia era diferente: fluida, graciosa, mas com a mesma determinação que os outros. Seus cabelos escuros esvoaçavam com a brisa leve, e seus olhos estavam fixos na árvore como se ela estivesse se comunicando diretamente com Navid. Ao se ajoelhar diante da nascente, Adhara segurou sua flor de maneira reverente, quase com carinho, antes de soltá-la sobre as águas. O brilho prateado do rio pareceu se intensificar por um momento, e o murmúrio dos Innisianos ao redor aumentou, refletindo o poder daquele ato. Ela se levantou, seu olhar ainda fixo na água, e se afastou com uma aura de tranquilidade que quase contrastava com a solenidade do momento.

 

O terceiro representante foi Elethis, do clã da Lua Nova. Com uma presença andrógina, Elethis caminhou com passos decididos, como se o próprio solo estivesse esperando por ele. Seus olhos brilhavam com uma luz intensa, e a flor que carregava parecia quase pulsar em suas mãos. Ao chegar diante da árvore de Navid, Elethis olhou para o céu, buscando a lua com um misto de devoção e desafio, antes de se abaixar para fazer sua oferenda. Quando Elethis finalmente soltou a flor nas raízes, as águas do rio pareceram vibrar com uma força maior, como se a árvore tivesse respondido de forma mais intensa à energia de Elethis. Ele se levantou, a cabeça erguida, e voltou para seu lugar sem olhar para os outros.

 

Por último, Bomani, do clã da Lua Crescente, caminhou até as águas com passos firmes, irradiando uma confiança feroz que parecia dominá-lo. Ele segurava sua flor com orgulho visível, e quando a colocou nas águas, o rio respondeu com um brilho intenso e uma vibração mais forte do que nas oferendas anteriores. Os murmúrios entre os Innisianos aumentaram, e Bomani sorriu levemente, seguro de sua conexão e sua importância no ritual. Seus olhos lançaram um breve olhar para Kamária, carregados de desdém e superioridade.

 

Agora, era a vez de Kamária.

 

Ela estava parada, os pés descalços tocando a terra sagrada. O mundo ao seu redor parecia se fechar em um silêncio denso. A expectativa pesava como uma montanha sobre seus ombros. Ela sabia que todos os olhos estavam sobre ela, esperando que seguisse o mesmo caminho dos outros, mas suas mãos estavam vazias. Não havia flor para ser entregue. Não havia o conforto da tradição, nem o peso de um ritual que ela pudesse seguir cegamente.

 

Ela começou a caminhar lentamente até a nascente. Cada passo ecoava como um tambor dentro de sua mente, um som surdo e constante que aumentava a tensão dentro dela. O frio da água não trouxe o conforto que normalmente sentia, mas uma sensação de distância, como se as águas estivessem rejeitando sua presença.

 

Quando ela se ajoelhou, sentiu o chão úmido sob seus joelhos, mas sua mente estava distante, tentando encontrar alguma resposta. As vozes dos afogados, que antes eram apenas um eco distante, agora eram um rugido constante em sua mente. Suas palavras finalmente tomaram forma clara: "Innis confia em você."

 

Kamária fechou os olhos por um breve momento. Como a deusa poderia confiar nela? Ela havia falhado em proteger a flor, em manter o ciclo intacto. A sensação de inadequação a esmagava. Mas as vozes não eram de julgamento. Eram de encorajamento, como se a deusa estivesse vendo algo nela que Kamária não podia enxergar. Ela inspirou profundamente, sentindo o ar pesado em seus pulmões, e abriu os olhos.

 

Seus dedos tocaram a superfície fria das águas, mas ao invés de mergulhar a flor, ela pegou uma pedra lisa do leito do rio. O peso da rocha em sua palma era como uma âncora, algo que a mantinha presente no momento, real e tangível, em meio a um turbilhão de emoções e expectativas. A frieza da pedra trazia consigo uma clareza amarga.

 

Ela levou a mão até a palma da outra, e, com um movimento rápido, cortou a carne. O primeiro fio de sangue começou a escorrer imediatamente, descendo por seus dedos com uma quentura reconfortante em contraste com o frio da água. O sangue pingou nas águas sagradas, uma gota de cada vez, e ela viu o líquido vermelho começar a se misturar com o prateado, formando um turbilhão que lentamente se expandia.

 


As águas, antes plácidas, agora estavam inquietas. O sangue de Kamária se misturava às águas sagradas, tingindo-as de vermelho. O rio que sempre a acolhera agora parecia reagir ao seu sacrifício com uma energia pulsante. A lua acima, antes prateada e calma, começou a mudar.

 

Primeiro, uma leve sombra a cobriu, como um véu. Então, lentamente, o tom prateado foi sendo substituído por um vermelho profundo. A luz que banhava o santuário foi tingida de sangue, e um murmúrio inquieto percorreu os Innisianos ao redor. Os anciãos sussurravam entre si, temerosos. O que antes era um símbolo de harmonia e tradição, agora se tornava um sinal de ruptura. A lua vermelha representava um presságio — um sinal de que algo muito profundo e poderoso havia sido alterado.

 

Kamária sentia isso dentro de si.

 

A voz de Innis surgiu, não como um grito, mas como um sussurro que cortava o silêncio.

 

— Kamária, filha das águas, por que traz o sangue em lugar da flor?

 

A voz da deusa era firme, mas não havia raiva, apenas curiosidade e um toque de desapontamento. A vibração das palavras ressoava no corpo de Kamária, como se a própria terra estivesse perguntando por que ela havia rompido o ciclo.

 

Ela respirou fundo, e quando falou, sua voz era baixa, quase um murmúrio, mas carregada de emoção.

 

— Eu fiz o que devia ser feito, minha deusa. A flor foi dada, mas eu não podia permitir que os rituais seguissem vazios. — Ela olhou para as águas tingidas de vermelho, seu reflexo distorcido pelas ondas. — Ofereço meu sangue porque acredito que, para fluir, precisamos transformar, assim como as águas moldam a terra. Não podemos apenas seguir o ciclo sem coração.

 

O silêncio que seguiu foi esmagador. Kamária podia sentir cada olhar sobre ela, cada sussurro entre os membros do clã, mas manteve a cabeça erguida. Ela sabia que havia quebrado o ciclo, e agora aguardava o julgamento da deusa.

 

A lua continuava vermelha, a luz tingida refletindo nas águas, no sangue, e nas folhas da árvore de Navid.

 

— Suas palavras são verdadeiras, filha das águas. — A voz de Innis voltou, desta vez mais suave, quase carinhosa. — Mas você quebrou o ciclo, e por isso deve pagar. Eu não te negarei minha presença, mas sua conexão será enfraquecida. Tudo o que você já foi capaz de fazer será perdido. E terá que começar novamente.

 

No instante seguinte, Kamária sentiu uma onda de energia percorrer seu corpo, mas não era como o poder que ela conhecia. Era como uma corrente fria que passava por suas veias, arrancando sua força. A sensação de vazio se intensificou. A conexão que ela sempre sentira com as águas e com a deusa foi arrancada.

 

Ela tentou alcançar a presença de Innis, mas era como tentar segurar água com as mãos. A distância entre elas parecia infinita.

 

Seu cabelo, uma vez tão brilhante quanto a lua, começou a escurecer lentamente. Kamária, agora enfraquecida, levantou a mão  até os fios, sentindo-os perderem a vida, tornarem-se pesados, como se algo vital estivesse sendo arrancado de dentro dela. O vazio era avassalador, como se uma parte de sua alma tivesse sido arrancada e deixada para morrer naquelas águas sagradas.

 

Giovanni correu para ampará-la, segurando-a nos braços antes que ela caísse completamente. Kamária, sempre tão forte, parecia agora frágil, quase irreconhecível em sua vulnerabilidade. Giovanni sentiu o corpo dela mais leve, como se a energia que sempre emanava dela tivesse sido drenada. O impacto de vê-la assim o atingiu profundamente. Kamária, a mulher que ele amava, a líder, a feiticeira Innisiana, agora parecia uma sombra do que fora.

 

— Estou aqui, Kamária, — ele sussurrou, sua voz tentando ser uma âncora para ela. Mas por dentro, ele sentia o desespero crescente. Ele a segurava com força, mas sabia que isso não seria o suficiente. Ele queria fazer mais, consertar o que estava quebrado, mas como? Ele não sabia como devolver o que ela perdera. Não sabia como aliviar a dor que ela sentia.

 

Kamária abriu os olhos lentamente, a dor e o choque refletidos neles. Ela ainda podia sentir a presença de Innis, as águas ainda fluíam em sua alma, mas tudo o que ela havia construído ao longo de tantos anos — sua habilidade, seu controle sobre as forças da natureza — havia sido tirado. Ela sentia o vazio onde antes havia poder, e esse vazio a consumia. Ser uma feiticeira Innisiana não era apenas o que ela fazia; era tudo que ela sentia que era. E agora, sem suas habilidades, quem era ela?

 

— Eu perdi, Giovanni, — ela murmurou, sua voz fraca, quase inaudível. Eu perdi tudo o que fazia de mim quem eu sou.

 

Giovanni olhou para ela, sentindo a profundidade de sua dor. Ele entendia o suficiente para saber que Kamária não estava falando apenas de suas habilidades. Ela estava falando de sua própria identidade, de sua essência. Tudo o que ela acreditava ser estava desmoronando diante de seus olhos, e ele não sabia como salvá-la disso. Ele a amava, mas será que isso era suficiente?

 

— Você não perdeu quem você é, — ele disse, sua voz firme, tentando encontrar as palavras certas. — Você é muito mais do que suas habilidades. Você ainda é a mulher que eu amo, a mulher que é forte, que luta, que lidera. E eu vou estar ao seu lado, aconteça o que acontecer.

Kamária sentiu as palavras de Giovanni, mas, no fundo, elas não conseguiam preencher o vazio. Ela sabia que ele a amava, mas esse amor não podia devolver o que ela havia perdido. Ser uma feiticeira Innisiana era mais do que uma parte dela — era o que a definia. E agora, sem isso, ela se sentia perdida, desprovida de propósito. As águas ainda corriam, mas estavam distantes, silenciosas, como se tivessem se retirado para além de seu alcance.

O vazio dentro de Kamária parecia maior a cada momento. Ela sentia o olhar dos outros sobre si, mas eles não podiam compreender a profundidade do que havia perdido. A conexão com Innis, sempre tão próxima, agora estava distante e incerta. Quando entregou a flor para Astar, pensou estar apenas protegendo Giovanni, mas agora se perguntava se havia cometido um erro.

Como poderia ter sacrificado algo tão essencial de si mesma? Ela sempre se viu como parte das águas, parte da magia que corria por suas veias, mas agora sentia-se deslocada, como uma folha sendo levada pela corrente sem rumo. Innis confiara nela, mas será que Kamária era digna dessa confiança? E se falhasse, não apenas consigo mesma, mas também com Giovanni? O medo de não conseguir recomeçar a devorava, como uma maré lenta e implacável."

 

 

Os outros membros do grupo se aproximaram lentamente. Peter, Atina, Korin, Sol e Teath cercaram Kamária e Giovanni, suas expressões refletindo uma mistura de choque, tristeza e preocupação. Eles podiam sentir a mudança, o que fora tirado dela. Não era apenas uma perda de poder; era uma perda de identidade. Atina, sempre conectada às forças espirituais, se ajoelhou ao lado deles, colocando uma mão delicada no ombro de Kamária.

 

— Innis ainda está com você, Kamária, — Atina disse, sua voz suave e compassiva. — Mas eu entendo. O que você perdeu não foi apenas habilidade, foi o que você acreditava que era. Ela olhou profundamente nos olhos de Kamária, reconhecendo o medo e o vazio ali. — Mas isso não significa que tudo acabou. Você terá que começar de novo, sim, mas você ainda é você. E nós estaremos com você.

 

Kamária tentou segurar as lágrimas que ameaçavam cair, mas não conseguiu. O peso do que Atina dissera era verdadeiro, mas difícil de aceitar. Ela sabia que ainda tinha sua conexão com Innis, que a deusa ainda estava presente, mas isso parecia tão distante agora. Ela havia perdido tudo que definia seu lugar no mundo, sua identidade como uma feiticeira. E o pensamento de começar do zero a aterrorizava.

 




— Eu não sei se posso, — Kamária admitiu, sua voz trêmula. — Eu não sei se sou forte o suficiente para recomeçar. Tudo o que eu sou, tudo o que eu acreditava... desapareceu.

 

Peter, que sempre fora o mais pragmático, deu um passo à frente, seus olhos sérios, mas cheios de compaixão.

 

— Kamária, você é uma líder. — Ele disse com firmeza. — Você sempre foi. E o que você perdeu não muda isso. Você tem um caminho à frente, e nós estaremos com você em cada passo. Você nos guiou por tanto tempo. Agora é a nossa vez de estar ao seu lado.

 

Teath, sempre silencioso, mas atento, se aproximou mais. Ele olhou para Kamária, vendo a profundidade de sua luta, mas também reconhecendo a força que ela ainda tinha, mesmo que estivesse escondida no momento. Ele entendia o que era perder algo tão fundamental.

 

— Você é muito mais do que o que perdeu, Kamária, — disse Teath, sua voz firme, mas gentil. — Eu sei que isso não parece verdade agora, mas você vai descobrir. E nós vamos estar aqui para te apoiar, seja qual for o caminho que você escolher.

 

Kamária olhou para os rostos ao seu redor — Giovanni, Atina, Peter, Korin, Sol e Teath — e, por um momento, sentiu uma centelha de esperança. Eles acreditavam nela, mesmo quando ela não conseguia acreditar em si mesma. Mas o medo e a incerteza ainda estavam lá, como sombras que a envolviam.

 

— Eu não sei como recomeçar, — Kamária disse, sua voz fraca, mas honesta. — Mas talvez... talvez com vocês eu consiga.

 

Giovanni segurou sua mão com mais firmeza, seus olhos cheios de amor e determinação.

 

— Você vai conseguir, — ele disse, sua voz cheia de convicção. — E eu vou estar ao seu lado, não importa o que aconteça.

 

Atina assentiu, um sorriso suave se formando em seus lábios.

 

— Nós todos estaremos, — ela disse, olhando para os outros, que assentiram em concordância.

 

Sol, sempre sereno, se aproximou, colocando uma mão firme no ombro de Kamária.

 

— Você sempre foi uma guerreira, Kamária, — disse Sol, sua voz tranquila. — E isso não mudou. Recomeçar é um desafio, mas é um que você pode enfrentar. E nós estamos com você.

 

Korin, até então silencioso, acrescentou: — Sempre juntos. Não importa o que aconteça.

 

Teath cruzou os braços, seu rosto sério, mas com um brilho de confiança em seus olhos. Ele sabia que Kamária era mais forte do que ela mesma percebia naquele momento.

 

— Você já venceu batalhas maiores, Kamária, — disse Teath. — E vai vencer essa também.

 

Kamária sentiu o calor das palavras deles, a força das suas promessas. Ela ainda estava abalada, ainda sentia o peso esmagador da perda, mas não estava sozinha. Embora recomeçar fosse um caminho árduo, havia algo que ela ainda tinha: eles. Suas conexões, seu amor, sua amizade. E talvez, com eles ao seu lado, ela pudesse descobrir uma nova força dentro de si. Mesmo que o caminho à frente fosse incerto, ela sabia que não o percorreria sozinha.

 

Com a lua voltando ao seu brilho prateado e o ar ao redor começando a se acalmar, o grupo se preparou para o que estava por vir. Kamária, embora ainda se sentindo despedaçada, sabia que havia mais uma jornada à sua frente. E dessa vez, com Giovanni, Teath, Atina, Sol, Peter e Korin ao seu lado, ela enfrentaria essa nova batalha com mais coragem. O sacrifício fora grande, mas a esperança ainda resistia.

Comentários