Feridas em família

 

O sol se punha sobre as muralhas de Omu, lançando uma luz dourada sobre a cidade enquanto Omu e Nia recebiam a notícia da renúncia de Kamaria como futura líder do clã da Lua. Bomani, com as mãos seguras, entregou-lhes uma escama da cauda de Kamaria como símbolo de sua renúncia ao cargo. O gesto solene reverberava com significado, uma decisão que ecoaria através das gerações.

Enquanto seguravam a escama, Omu e Nia reviveram as memórias de sua filha sendo preparada para liderar o clã. As tentativas de Kamaria de absorver as tradições da lua crescente, de proteger a harmonia entre as linhagens, eram visíveis naquela escama que brilhava suavemente sob a luz do sol poente. No entanto, a sombra de seu desaparecimento por trinta anos e a renúncia ao cargo agora entregava uma verdade amarga.

Ao se retirarem para o interior de sua casa, Omu e Nia compartilharam pensamentos em voz alta sobre o papel de Kamaria como futura líder e a renúncia que agora moldaria o futuro do clã. As palavras eram carregadas de desapontamento e pesar, pois lamentavam a incapacidade de Kamaria de cumprir as expectativas impostas pelo clã e a tradição que ditava a caçada aos humanos.

"Kamaria tinha potencial, mas o destino pregou uma peça cruel", murmurou Nia, sua voz carregada de tristeza. "Ela desapareceu por tanto tempo, apenas para retornar com essa renúncia..."

Omu concordou, mas uma sombra cruzou seu rosto envelhecido. "Ela escolheu se esconder, longe de seu clã e de suas responsabilidades. Isso é um golpe duro para nós, Nia."

Nesse momento, enquanto relembravam a trajetória de Kamaria, a memória de Akin emergiu como uma ferida antiga, ainda fresca em seus corações. A tristeza da perda do herdeiro destinado a unir suas linhagens voltou com força total. As imagens do fatídico dia inundam a memória do casal.

Akin, herdeiro do clã da Lua Minguante, encontrou seu destino sombrio numa noite envolta em mistério e trevas. Era uma noite de lua cheia, quando as sombras se alongavam e os sons da floresta adquiriam um tom sinistro. O clã, sob a liderança de Omu e Nia, realizava uma cerimônia especial para reforçar os laços com a divindade Innis, mas algo terrível estava à espreita nas sombras.

A atmosfera era densa, carregada de uma tensão que anunciava a chegada de algo maligno. A cerimônia prosseguia quando, de repente, criaturas sombrias emergiram das trevas circundantes. Eram humanos corrompidos pela escuridão, membros dos Cavaleiros das Sombras, uma ordem nefasta que buscava caçar e destruir os seres ligados às divindades daquele mundo.

Akin, jovem e corajoso, liderou a resistência. Seu desejo de proteger sua família e seu clã era evidente em cada movimento, mas as forças das trevas eram implacáveis. A batalha foi feroz, iluminada apenas pela luz pálida da lua cheia. Akin enfrentou os Cavaleiros das Sombras com bravura, mas, eventualmente, foi cercado por uma aura de escuridão que o consumiu.

Akin

O clã assistiu impotente à queda do herdeiro promissor, enquanto os Cavaleiros das Sombras desapareciam na noite. A dor da perda foi agravada pela traição dos humanos, que haviam quebrado os laços de confiança entre as diferentes raças. Akin se tornou uma memória dolorosa, um símbolo da fragilidade diante das forças sombrias que permeavam aquele mundo.

O evento deixou cicatrizes profundas no clã da Lua Minguante, e a lembrança daquela noite assombrava não apenas Omu e Nia, mas todos que perderam alguém para as trevas. A morte de Akin tornou-se um episódio trágico na história do clã, moldando as decisões e o destino dos que sobreviveram.

O silêncio caiu sobre o casal por um momento, permitindo que as lembranças dolorosas ressurgissem.

"Perdemos tanto..." murmurou Omu, seus olhos perdidos nas sombras da sala.

Nia assentiu com tristeza. "Akin, aquele que deveria ser o elo entre nossas famílias, partiu cedo demais."

Enquanto recordavam a tarde fatídica em que Akin caiu perante as forças das trevas, as lágrimas de Nia caíram silenciosamente, e Omu ficou imerso em pensamentos sombrios. A vida, cheia de promessas e esperanças, havia sido marcada por tragédias, e a luz da renúncia de Kamaria não conseguia dissipar completamente as sombras que pairavam sobre a linhagem da lua crescente.

Bomani, que permanecera em silêncio, sentiu o momento apropriado para compartilhar uma revelação que deixaria os pais de Kamaria perplexos. "Kamaria renunciou à liderança do clã para salvar um navio de humanos," disse ele, sua expressão séria. "Isso adiciona um novo capítulo à sua história, um capítulo que desafia nossas compreensões e expectativas."

A revelação de Bomani cortou o silêncio pesado, e uma faísca de furor acendeu nos olhos de Omu e Nia. O casal trocou olhares furiosos, e o rosto de Nia ficou contorcido pela indignação. Uma decisão tão crucial, tomada sem consulta ou aviso, enfureceu-os profundamente.

A revelação de Bomani cortou o silêncio pesado, e uma faísca de furor acendeu nos olhos de Omu e Nia. O casal trocou olhares furiosos, e o rosto de Nia ficou contorcido pela indignação. Uma decisão tão crucial, tomada sem consulta ou aviso, enfureceu-os profundamente.

"Essa traição não pode ser ignorada," declarou Omu, sua voz ressoando com uma autoridade ferida. "Kamaria deve responder por suas ações. Já suportamos demais."

A ira impulsionou a determinação de Nia. "Mande mensageiros ao clã da Lua crescente. Ordene que a capturem viva e tragam-na de volta para enfrentar as consequências. Qualquer humano em sua companhia deve ser eliminado. Nossa filha não escapará da justiça de seu clã."



Bomani, testemunha relutante dessa decisão draconiana, partiu em silêncio para cumprir as ordens. Embora descontente com a severidade das medidas, uma satisfação sombria enraizou-se em seu coração. A oportunidade de fazer Kamaria pagar por todas as dores e rejeições que ela causou ao clã e a ele era, de certa forma, uma espécie de redenção.

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